Sensei, muito obrigada pela oportunidade!

Subitamente fez-se silêncio em todos os lugares. Alguns cutucões nos mais distraídos, alguns pedidos de silêncio, e em minutos, o que era um pequeno ginásio cheio de gente tornou-se só olhos.

Ono Sensei parecia nem notar. Com seu sorriso indefectível, seu lento caminhar, foi preenchendo todo o ginásio com sua energia. Podia-se tocar a vibração que emanava do tatame.

A pequena reverência trazia em si mesma todos os anos de treino, de respeito, de dedicação, de amor. Cada pessoa sentiu-se tocada por esse movimento respeitoso, que simboliza não só o amor ao próximo, mas o reconhecimento da centelha de Deus que existe em cada um. O olhar do Mestre não se deteve em ninguém. Mas todos sentiram a chama vibrar dentro de si.

A respiração suspensa, cada espectador tornava-se, naquele momento, o uke tão desejado. Não havia mais “eu”, somente o Todo.

Ao levantar-se, Ono Sensei carregou consigo toda a emoção da platéia. Cada gesto, cada pequeniníssimo movimento, até mesmo o simples piscar de olhos era gigante, durava uma eternidade, passava em um único instante.

Os golpes foram se sucedendo um a um. Todo o ar vibrava, o ki, poderoso como nunca, foi sentido em cada coração.

Quando parecia que todo o ginásio já estava completamente tomado por essa energia fabulosa, uma explosão de palmas, o alívio da tensão crescente dos espectadores, e uma única frase rompe o silêncio da platéia: “Mas o Sensei não está encostando nele! Por que ele não consegue levantar?” Não houve resposta, só mais aplausos.

O ki agora envolvia a todos como um sol de verão. As explosões de espanto foram se sucedendo, a admiração crescendo, poucos conseguiam continuar sentados. Todos desejavam que esse momento não terminasse nunca.

Finalmente o Sensei senta-se novamente. O ginásio parece vir abaixo com os aplausos. Ninguém senta. Todos querem prolongar ao máximo aquela sensação, aquele momento. Como viajantes perdidos no deserto, todos sorviam as últimas gotas daqueles ensinamentos tão preciosos quanto silenciosos.

Com os mesmos passos vacilantes, Ono Sensei vai se retirando do tatame. O mesmo sorriso, a mesma postura, a mesma humildade de sempre.

- Sensei, muito obrigada pela oportunidade...
- Mas Sensei não fez nada, só ficou olhando... (Ono Sensei, a uma aluna, depois da demonstração comemorativa)

Cecília Oliveira
sobre apresentação de Ono Sensei
na comemoração dos 42 anos de Aikido no Brasil