"Mergulhe
seu corpo e espírito em um treinamento intenso e diário
para abordar a diversidade através de um princípio elementar.
Isto é Budô."
[Morihei Ueshiba, Ô Sensei]
Esta
era a frase do cartaz do intensivo de inverno deste ano e posso dizer
que após participar do mesmo, nenhuma outra me parece mais adequada.
Quando me perguntaram como foi o intensivo respondi repetidas vezes:
"intenso". Os treinos tinham início às 7:30
da manhã e terminavam por volta das 22:30 da noite. O dia dedicado
ao aprendizado teórico e prático do Aikidô. A cada
treino um professor, um mundo de diversidades dentro da mesma academia
e, no entanto, a cada dia esta diversidade fazia mais sentido e sua
ligação com o cotidiano demonstrava o mesmo princípio
guiando professores e praticantes.
Treinávamos, lanchávamos e dormíamos na academia.
Assim como os treinos, o frio também se mostrava intenso. A cada
dia o cansaço aumentava. O desgaste físico e emocional
se mostrava aparente. A vontade de desanimar, de deixar de fazer um
treino, o mau humor ao acordar ou ao dormir foram expressões
quase unânimes por parte dos internos. No entanto, todos também
se mostraram determinados a continuar. Só mais um pouco, mais
um treino, mais um dia. "Só falta 245 treinos agora"
brincávamos. As piadas e os momentos de descontração
vinham para ajudar, assim como o carinho e atenção dos
praticantes de São Paulo. No final todos estávamos satisfeitos
de termos persistido. Na hora de ir embora, apesar do pequeno período
de tempo que passamos e das dificuldades compreendidas no mesmo, uma
pontada de saudade e o desejo de ficar um pouco mais, pelo menos da
minha parte, devo confessar.
A vivência de uma experiência como essa me parece fundamental
para o praticante de Aikidô, pois a cada dia, a cada treino, as
dificuldades vão se mostrando cada vez mais fortes e o corpo
e nossa determinação vai pouco a pouco cedendo. É
neste momento que nossos movimentos internos vão aparecendo e,
se tivermos atentos, podemos perceber como reagimos quando as adversidades
nos levam até o limite. Acredito que esta experiência e
uma abertura neste momento nos permite abrir portas para a mudança.
Lembro-me da primeira vez que fiz um treino semelhante a este em São
Paulo e como comecei a mudar após o mesmo. Em um determinado
momento falei com Ono Sensei: "Sensei, não estou agüentando
mais nada, já to morto", o que ele me respondeu: "É
agora que o treinamento vai começar" e continuou "Sem
a força do corpo é o espírito que continua e o
ki pode fluir". Na época senti ter compreendido o que ele
falou, mas posso dizer que agora, após uns 2 anos e alguns treinamentos
como este, esta frase tem outro sentido para mim e posso compreender
um pouquinho melhor do que se trata o treinamento diário de um
Budô.
por
Rodrigo Gonçalves